Era uma vez...
Ao longo deste trajeto como professor tenho várias das que me lembro vou contar...
Sentem-se no sofá, façam um chá e bebam acompanhado com umas bolachas... à lareira (ou no terraço ao sol... talvez com um sumo natural e uma torrada).
1. Visita de estudo ao CCB, Exposição Berardo (www.museuberardo.pt). Era o ultimo grupo da escola a entrar junto com os professores acompanhantes. Eram os únicos alunos de uma turma minha e por isso entrei com eles. Ao entrar, na primeira sala, fiquei de pé, atrás dos meus colegas de outras disciplinas enquanto os alunos se sentavam no chão à nossa frente junto da exposição.
O guia começou a explicar deixando qualquer dos elementos à vontade para poderem acrescentar. Pouco depois das primeiras explicações um conjunto de quatro alunos começou a explicar o que estavam a ver acrescentando outras considerações relevantes que deixaram o responsável sem palavras referindo que "estavam muito à frente e nada mais tinha a acrescentar nem nunca tinha visto nada assim...". Seguiu, de pronto para outra sala.
Nas salas seguintes já praticamente não falou e aqueles jovens apresentaram tudo o que estavam, estética e artisticamente a ver! Os meus colegas olhavam para mim assim como os alunos, olhando para trás com expressão travessa, deslumbrados, com aquilo que estava a acontecer! Se tivesse ali um buraco era para lá que ía pois estava sem postura, não os preparei, era suposto irem à descoberta...
No fim ao subir umas escadas encontrámos-nos os cinco, estando eu tal como estou a escrever estas linhas ainda arrepiado com tamanha competência. Nessa altura disseram-me: "professor tudo o que ali se passou devemos a si e à forma como direciona as aulas". Respondi que se devia essencialmente à qualidade e compromisso que têm para com a escola, devendo-se este êxito espontâneo a eles e só a eles!
Até hoje tenho-os no coração e ao lembrar-me deste momento sinto um misto de embaraço e orgulho, acreditando cada vez mais nesta profissão mas da forma construtivista que defendo...
2. Os alunos no Agrupamento têm o refeitório na escola onde leciono, a EB 2,3. Na Secundária não há refeitório. Toda a comunidade tem que se deslocar da escola sede para a "Preparatória" se quiser almoçar.
Foi no refeitório que um dia cumprimentei uma aluna, de etnia cigana, que tinha sida minha aluna no 2.º ciclo, como cumprimento os demais. Perguntei se estava a correr bem o seu trajeto na escola tendo respondido que sim e questionei se se lembrava das nossas aulas tendo respondido que sim e que "professores como o sr. nunca se esquecem". Rematei que eu é que me posso congratular que tendo tido uma aluna como ela e outros, com as suas especificidades, é salutar perceber que afinal valeu a pena e eu é que não a esquecerei, desejando-lhe todo o êxito e sorte do mundo.
Quem leu 1 e 2 pode ficar com a convicção de que coloquei estas histórias num assomo de presunção. Nada mais errado, para mim a vanglória não tem qualquer interesse, é importante qualquer pessoa se colocar na posição de observador imparcial (na medida do possível...), talvez, dessa forma, percebesse mais um pouco de si mesmo. O prazer de ir acumulando estas estórias é o que me alimenta, pois vejo-as... do tamanho do mundo!
3. Uma das ideias e objetivos nucleares na génese deste modelo é o... refazer, a autocrítica espontânea e permanente. Já vários alunos refizeram trabalhos que tenho todo o gosto em reavaliar até para que fique bem "sentida" a sua evolução, pois é isso que defino como "escola". Um destes casos que ficou bem patente no Portefólio digital passou-se com uma aluna que já tive há alguns anos. Apresento no início do circulo cromático, quando projeto os trabalhos de referência existentes dos anos anteriores, uma folha... rasgada! Os alunos ficam atónitos, confusos, julgando tratar-se de lapso. Nada disso: quero que entendam que este "trabalho" existe antes de outro... sublime. O primeiro não resultou, a aluna, desiludida consigo própria, rasgou e refez algo (quase) perfeito. Valeu, vale sempre a pena!
4. O primeiro trabalho a realizar é o Plano Individual (PI). O PI 1, PI 2, PI 3, conforme o período é onde os alunos registam os sumários, autonomamente, de forma sucinta e são: no PI 1 a ficha de diagnóstico para que percebamos o ponto de partida do aluno para trabalharmos uma chegada triunfal! No PI 2 já queremos que reflita sobre o que já deu no 1.º período e até sobre o que irá ser abordado no 2.º após uma rápida observação das tarefas. O PI 3 será também uma ficha global de ano ilustrada para que o aluno se mantenha comprometido com as metas.
Na legenda consta sempre a designação PI ... mas um aluno, há anos, querendo associar à matemática passou a designar e registar por... π (π 1 π 2 e π 3). Enfim... uma ideia do tamanho do mundo!
5. A base do Portefólio por mim criado é, apenas, um trivial caderno A4 liso sem margens que, no fim, constituirá um livrinho com a abordagem ilustrada do programa e suas metas.
Foi uma surpresa verificar que resultou tão bem sendo um êxito há vários anos. A ideia é também essa: mostrar que podemos (estou cá para ajudar no terreno...) de "coisas" tão simples e aparentemente "disfuncionais" ou inapropiadas à primeira vista, fazer algo muito válido e real "pedrada no charco"!
Uma das tarefas para abordar o património era (a partir de 2017/2018 substituí pelo Farol do Cabo Sardão) a Torre de Belém, que teria de ser preenchida por cinzento ou bege pois são as cores das imagens, pesquisadas, da mesma. Uma das alunas não querendo pintar de cor neutra (cinza) e não tendo bege, o que fez? Resolveu colorir o verso da folha, dentro dos contornos do monumento de amarelo-limão. Com a ajuda da semi-transparência da folha quando observamos a estrutura temos ali... bege!
Nestes casos os alunos têm uma folha pensada para experiências e notas e função "post-it", onde escrevem para não esquecer o que querem perguntar quando estou a explicar e não devo ser interrompido. Neste espaço, o único que não tem esquadria nem é legendado, os alunos podem experimentar cores até chegarem ao tom, por ex., pretendido.
6. Para abordar a simbologia e comunicação tecnológica, em ET, uma das tarefas é o mapa. Os alunos começam por observar vários exemplos (no tablet, no telemóvel, no PC da sala, a planta do edifício escolar patente em todas as salas, em exemplares que trouxeram ou que têm nos seus manuais, etc.). Constroem um mapa de um mundo que criaram... virtualmente, um universo só seu (há muitos no nosso portefólio digital, na pasta respetiva).
O curioso é que o que vou falar não é relativo à disciplina mas a... EV! Qual a razão para tamanho espanto?! Ora bem: costumo, em aula, ser muito taxativo, não quero confusões entre os professores de EV e ET (eu e... eu)! Há alunos com preguiça, distração ou leviandade de espírito, com tendência para questionar, apesar das advertências, em que disciplina estamos. A esses e para que todos oiçam relembro que logo na 1.ª aula foi referido que o professor não é o mesmo e até não se dão lá muito bem :) (sendo a única exceção à regra)! A ligação entre todas as disciplinas é estimulada em permanência, mas não podemos esquecer que a base são as metas curriculares da área cientifica em que estamos e que as queremos abordar e cumprir.
Em EV estamos a dar a estrutura e textura. A ideia é procurar e encontrar vários elementos e de várias formas de modo a concluirmos um trabalho. Foi aqui que um aluno colocou a base do ténis com tinta sobre uma folha e... Uau! Chegou junto de mim e disse-me: professor veja, é um... mapa! E de facto, assim parece. Estava a realizar um exemplo, pois tenho sempre, para qualquer tarefa, duas pastas de exs.: uma com o do professor e outra com os exemplares dos alunos (fotos-ver vídeos, por ex.), ficou, para sempre incompleto e foi a base do nosso trabalho e o nome da cidade faz referência a isso.
7. O acampamento de verão é, desde o ano passado (o primeiro), momento alto de celebração do 2.º ciclo. Sem esperar fui convidado e, então, fiz parte deste momento ímpar. Fazemos trabalhos sempre como defendo: Partindo de ideias abstratas criamos objetos concretos que muito nos dá prazer e consolida a sensação de que, juntos, somos capazes. Afinal, (quase) sem meios também é possível construir com solidariedade e inteligência!
8. Aprendemos o movimento, dinamizando, numa das tarefas (é um trabalho duplo) o flipbook (animação através de um livrinho) e o traumatrópio. Um aluno, quando estávamos a acabar esta tarefa, veio junto de mim mostrando-me um pequeno bloco com muitas folhas referindo que o tinha em casa propondo-me que nele fizesse um flipbook, acabando com um desafio: "professor, aceita?!". Aceitei, claro. Mas ainda não acabei...
9. O meio cromático é algo que trabalhamos pensando, refletindo sobre as cores ao nosso redor. É sugerido que se desenhem num espaço duas situações em paralelo, que através da diferença de cores nos transmita qual o meio que reflete. Podemos assim ter Céu/Terra; Terra/Marte; Primavera/Verão; Montanha/Praia; Noite/Dia; Sujo/Limpo; Cidade/Campo, etc..
Foi neste trabalho que um aluno se lembrou do seguinte: vou fazer exatamente o mesmo local (pode ser ou não). Realizou, assim, um trabalho em que nos mostra como observa as cores da sua sala. Já o avô, representado ao lado, vê de outra forma, pois é daltónico.
Esta partilha de saberes e fazeres com elementos exteriores à sala é, para mim, uma ode à escola!
10. Na "capa do site", antes da reformulação que fiz, a abrir, coloquei duas imagens, uma na parede com uma caricatura de rosto minha e uma com um rosto na praia.
A primeira foi feita há poucos dias (escrevia a 08 de setembro de 2018) marcando o meu intervalo na lavagem da parede, para pintar, da escola básica 2,3 Duarte Lopes onde será desenvolvido o projeto "AI?!" (um dos subtemas de DTDM (ver organograma)). Como surgem outras prioridades (reúniões e outras...burocracias) parei, mas voltarei deixando aquele boneco feito com a máquina de pressão, que, arte efémera, desaparecerá quando reiniciar o trabalho.
A segunda fiz há pouco mais de uma semana. Era dia do Samuel e eu acabara de ser informado pela minha esposa disso. Estando na praia decidi premiar o meu irmão desenhando o seu rosto, de memória, na areia.
Muito do meu trabalho é, na génese, inocente mas é, rapidamente associado ao que pretendo incutir nos alunos: não temos com que escrever? Será (mesmo) assim?!
Das fraquezas fazemos forças: somos orgânicos, não mecânicos e principalmente sempre ativos!
O exemplo pode, para alguns, parecer algo desagradável, mas quem quer de facto fazer algo e sente ser capaz tem um "bichinho" que o impele e vai acontecer como com o Marquês de Sade que já não tinha nada na sua cela e mesmo assim continuava a escrever com sangue e, mais tarde, fezes na... parede (não é preciso ir tão longe, mas teremos solução)!
11. Estamos, aquando destas linhas, a iniciar o ano letivo 2018/2019. Tal como nos anos anteriores tento estar já preparado fisicamente para o que aí vem. Os alunos "não respeitam" os horários pois, em grande número, querem vir antes e sair depois, não querem sequer usufruir do intervalo (até, com cuidado, podem lanchar nesses 10 mns a trabalhar para não cortar a... inspiração). Chega a haver dias que quase não vejo colegas pois tenho... sessão contínua. Importo-me?! Sim. Importo-me das aulas em que se podem expandir e serem, de facto, Eles terem que ter um fim ao fim (perdoe-se-me a redundância...) de perto de... 120 mns. E os que querem, "nos buraquinhos" ir lá para trás, no horário de outras turmas, continuar o seu trabalho e passo a ter uma turma 2 em 1 (em que, por vezes na turma "intrusa" há elementos de várias...). Gosto destes agentes de futuro!
12. Na fantástica semana, no início de 18/19, em que iniciámos de forma visível o DLmania aconteceu algo que é bom partilhar:
Um aluno (como outros...) juntou-se a nós para pintar (ver Projetos) quando lhe pergunto:- Não tens aula?
- Porque estás a pintar com a esquerda (conheço-o bem...)?
O aluno respondeu:
- Não estou na aula pois magoei-me no braço direito, espero o meu pai...
Muito, muito obrigado!
13. Uma peça simples mas não menos importante para o desenvolvimento do nosso portefólio é a cartolina protetora. Peço-a sempre no início do ano, servindo para proteger a folha seguinte de vincos, linhas e decalques indesejáveis fomentando uma apresentação cuidada. Um aluno veio ter comigo e dizendo que a cartolina que será a sua retirada da caixa de cereais há vários anos já pertenceu ao irmão realçando os decalques nele deixados. Mais que numa tábua de escrita cuneiforme... aqui história continua!
14. No trabalho "da matéria prima ao material" uma aluna solicita colocar a sequência... ao contrário! Achei uma ideia interessante pois, de facto, o que já temos perante nós, no dia a dia, é o material, vamos descobrir que matéria prima esteve na sua origem. Gera até mais... suspense! (neste caso primeiro desenhou um estádio fazendo depois setas para os matérias primas que darão origem ao mesmo).
15. Um dia emprestei uma tesoura cor de rosa a um aluno porque foi a que foi a primeira que retirei de uma gaveta que temos com vários materiais para ceder quando é necessário (a deste aluno tinha-se estragado). Ainda olhei para dentro e ia-lhe dar outra quando me diz que quer aquela mesmo! Disse-lhe que podia ficar com ela. Um dia, algum tempo depois, no fim da aula quando os colegas já tinham saído, o Gonçalo acerca-se de mim e, a sós, diz-me que guardará para sempre aquela tesoura pois ela simboliza a irmã que perdeu estando vestida de cor de rosa! : ( Ainda aluno da escola é hoje companheiro de projetos e a tesoura está guardada pela avó como uma...jóia!
16. No sábado 13 de outubro de 2018 esteve uma equipa a trabalhar no pátio da escola de forma a surpreender quando a comunidade chegasse na segunda feira (ver Projetos). A ideia era congregar as várias "almas" que numa escola vivem, retratando-as e valorizando-as ali. Conforme o dia se encaminhava para o fim nunca entrámos em pânico mas sabíamos, no fundo, que poderia não se concretizar com total êxito a nossa odisseia pois tínhamos vários obstáculos como o furacão Leslie que soprava e trazia chuva assim como a tinta que já escasseava e a noite que já imperava. A família Castanheiro permaneceu ali comigo firme e hirta, a mesma que nas fotos revela no seu agregado o André, de cadeira de rodas e muitas dificuldades motoras, o Afonso que a sua dislexia não impediu de continuar a ajudar com ideias até para combater a falta de luz, tal como a Rita que, acidentada nos dois braços, mal chegou começou logo a pintar e nunca mais parou. Assim como aos filhos, aos pais, Sr. Domingos e D.ª Marina, destes meninos rendo, como coordenador deste projeto a minha homenagem pois sem eles e a sua perseverança e cumplicidade não teríamos divertido e orgulhado tanta gente quando, dia 15, entraram naquele recinto escolar. Sei que com eles havemos de espantar muito mais!
17. Dia 26/10/2018, o aluno Duarte do 5.ºB, do nada, após uma das minhas múltiplas ideias e sugestões, pergunta: - Professor: posso por-lhe uma alcunha? - Claro, se for algo... decente! : ) Respondo. - Inspirador! Respondeu. (O aluno nem sabe o quanto me tocou a sua intervenção. Pois quis tanto, na semana anterior, precisamente nesse contexto, mostrar a colegas o vídeo "Atmosfera" (ver Vídeos) e tal não me foi permitido. É um filme, proveniente de um Ppt, com que se pretende divertir... formando (como tudo o que "fabricamos"). O Duarte com a sua intervenção deixou-me, pessoal e profissionalmente tão... confortado! É um sonho realizado ter quem nos reconheça, na pessoa de quem nos vê, que connosco convive e cresce). "Deus escreve direito por linhas tortas".
...Mas sinto que sou mais um agente Motivador... pois, creio que os alunos é que serão os Inspirados!
18. Uma aluna, no começo de um segundo período, acerca-se de mim e diz-me: - já tinha saudades, e o que mais saudades tinha era das suas... provocações! No decorrer das aulas gosto de provocar/impactar os alunos, sendo recorrente dizer que os trabalhos estão uma porcaria, que não prestam para nada, que não vão conseguir. Adoro fazer uso da ironia e do sarcasmo, aguçando-lhes a astúcia, o espírito crítico e incitando a serem... perfeitos e completos. No fim digo-lhes que afinal perdi: Eles são os melhores. E são!
19. Esta história ainda não aconteceu mas vai parecer uma nova aparição (?!) de algo/ente importante. No pátio na parte de trás do edifício da escola espero/amos reunir as turmas possíveis e lá desenhar no chão uma espiral gigante na qual será construído um "jogo da glória" com motivos e regras de todas as disciplinas e que os peões somos nós. Vamos fazer? Claro!
20. O ex-aluno, agora amigo, Yaroslav foi a, Nosso pedido, escrever em russo (sua língua-mãe) a palavra "OLÁ" no DL Línguas (facebook). Quando acabou disse: "Muito obrigado, tinha tantas saudades de escrever em Russo!", "Nós é que agradecemos", respondemos. E lá foi com um sorriso saudoso da sua terra natal. Muitas outras línguas já lá colocaram o seu olá e foi sempre... Especial. Quando acaba o ano letivo, no final dos dois anos do 2.º ciclo convido Todas as alunas e Todos os alunos a serem a partir dali amigos. E assim vão ficando (reciprocamente) no coração...
21. No início do ano estivemos, num sábado, a pintar "Bem-Vindos" (pintura Inclusiva) na entrada. O chão é muito irregular e a pintura está, já, muito degradada. Um dia encontro um dos EEs que esteve a fazer o trabalho Connosco que me disse: "já sei como vamos fazer: vamos construir em mosaico!". Fiquei arrepiado e radiante. Já o estamos a preparar, Para Todos! Obrigado, mais uma vez, Sr. Domingos.
22. Há uns anos uma aluna, a Sofia, foi para casa e disse ao pai que pintava a lápis de cor por camadas sempre com a mesma intensidade de acordo com aquilo que aprendeu. O pai exaltou-se, dizendo que prof. não sabia pintar. A menina foi buscar o Portefólio e mostrou a qualidade da sua pintura. O pai talvez ainda tenha dificuldade em... segurar o queixo! : ). Obviamente que brinco porque vou, no meu percurso conhecendo e estimando as pessoas, tendo uma relação com todos de grande respeito, cumplicidade e reconhecimento (é aquilo que desejo "como filho de boa gente"). Tornando a relação... leve. Entreguei-me a esta causa (fazer com que aprendam) e este EE entendeu que o conceito que tinha estava... ultrapassado. muitas vezes dou comigo a pensar que é tão bom andar nesta estrada e com estas pessoas me cruzar, levando um pouco de mim e eu ficando com um pouco delas.
23. No regresso ao centro escolar, de uma turma de 4.º ano, após visita à escola Duarte Lopes uma aluna chega à sala e diz: "professora vou rezar todos os dias para o professor Daniel ser meu professor para o ano". Que dizer? Como dizem algumas pessoas: "não desfazendo", gostava de os ter Todos!!!
24. Há uns anos havia uma pega que era mascote dos meninos na escola em Manique do Intendente. A ave entrava na sala e levava lápis, borrachas, afias, etc. e construía o seu tesouro no telhado! A pega "Rita" (só me relembrei deste nome há poucos anos) era a nossa mascote e ía falando connosco e acompanhando-nos quando íamos desenhar fora da escola quer na ída quer na vinda, todos gostavam dela e até se sentiam felizes com o facto de serem brindados com os furtos da malvada! Ao lado desta escola existia (não sei se se mantém) um paul de onde, em março, os meninos traziam cágados e ainda tive dois por eles oferecidos. Era um lugar especial, de gente especial.
25. Há nas paredes da Escola Um Duarte Lopes intitulado de "DL cinzento". Foi uma obra realizada sem projeto, a única. Os alunos estavam, em equipas, a concluir outros à volta e o professor tinha uma vontade enorme de fazer um "repentista". E assim nasceu esta peça. Mas a história não acaba aqui. Ainda nessa semana um aluno entre os que pintavam connosco referiu que não simpatizava muito com este "boneco", gostava de todos mas este era o que gostava menos. Na semana seguinte, mais à frente, enquanto pintávamos o "Zavana" um outro aluno aborda o docente dizendo que achava todos maravilhosos e especiais mas o que era mesmo muito bom era o "Cinzento! Entretanto passou a ser designado como "O DL da Internet" onde os alunos se aproximam para obterem mais rede! :-) (ver imagem no Facebook)
26. O Nosso DL Impressão Digital foi replicado lá fora pelo pessoal do Erasmus+. Quando nos apercebemos fizemos a nossa impressão digital a café num pedaço de papel e fotografámos, enviando no messenger. Os Amigos, lá longe, colocaram essa ID na sua imagem junto às suas marcas!
27. Um dia, no ano letivo anterior, junto à entrada alguém ouviu um pai e um filho, ainda infantil, a conversar junto ao gradeamento observando, felizes, os muros interiores da escola Duarte Lopes. Dizia o filho para o pai: "pai que desenho é aquele no muro?". "É um DL" respondeu o pai. "E ali?" Questionou, ainda a criança, ao que o adulto respondeu: "É outro DL". A pergunta voltou a ecoar e a resposta dada, invariavelmente, a mesma...
O conceito entranhou-se!28. Em EV falamos no Património e, por ex., nas 7 maravilhas. No fim de um ano letivo, na auto-avaliação, é importante o feedback dos alunos em relação ao que foi o ano letivo e a direção que tiveram, qual a sua opinião. A ideia é melhorar e/ou continuar de acordo com o olhar de quem melhor nos conhece e julga, como docentes: os alunos! Então dois escreveram ser o professor a... oitava maravilha. Fiquei sem palavras e tal só sedimenta a vontade de fazer mais e melhor!
29. Na visita de uma semana do Erasmus+ ao Agrupamento estiveram connosco a, mais que ver a arte, a sentir a Nossa Atmosfera e a comungar connosco numa atmosfera de bem-estar na Escola. Quando ultrapassamos o "DL Abraço", uma professora grega disse-nos deslumbrada: Isto parace o....Guggenheim!!! Que orgulho tal confissão espontânea. Quando regressaram todos os países replicaram o que aqui fazemos e deixaram a nota de que o ponto alto foi esta visita (apesar de terem sido muito bem recebidos por todos e terem tido com muitas experiências...top!).
30. A Alina é uma aluna de leste mas já ambientada a Portugal. É uma perfecionista que não descansa até ter tudo "nos trinques", nem que demore o triplo do tempo dos outros. O professor sabe o caminho e avalia de acordo com a sua velocidade cruzeiro. Um dia pretendeu escrever algo para o professor propondo-o para algo em que achava que se devia candidatar. Depois de o fazer veio ter comigo dizendo: "professor: escrevi isto e queria escrever ISTOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO" (abrindo os braços) mas no campo não havia mais espaço...
31. Nos dias de greve da função pública normalmente a escola fecha. A ultima vez (quando são escritas estas linhas) não fechou pois havia auxiliares suficientes. Muitos dos alunos dos arredores da localidade não se deslocam de casa nesses dias, pois poderia criar constrangimentos. Mas alguns estão na escola e, na aula, como estavam poucas alunas juntaram-se em grupos nas mesas e continuaram os trabalhos opinando e acrescentando num trabalho verdadeiramente colaborativo de tal modo que o telemóvel estava ligado e, em casa outros íam continuando a fazer exatamente o mesmo que os colegas em videoconferência! Um... Espanto!
32. Damos, na aula, um tema denominado de "riscadores e suportes físicos". De início os meninos de 5.º ano acham esquisito mas depois entranha-se. Um dia chega uma aluna junto do professor e mostar, feliz, um riscador que inventou, algo entre a caneta e o pincel: uma ponta de cola de bisnaga já seca e gasta com um pedaço de papel crepe introduzido na ponta que embebido em tinta pinta e escreve!:-D
33. Vamos tendo alunos que além de forrarem os cadernos de EV e ET, temáticamente, dedicam-se a fazer o mesmo nos das outras disciplinas numa réplica sublime, inspirada e inspiradora para os demais.
34. Espreitem esta história, vale a pena:
O Diretor do AEB publica um vídeo em que tem como conteúdo (naquela altura muito na moda mas que qualquer de nós pode encontrar na Internet):
"Um professor encontra um rapaz que diz ter sido aluno dele. O jovem pergunta: - Lembra-se de mim? E ele diz que não. O jovem conta que foi aluno dele. E ele pergunta: o que anda fazendo? Sou professor. Ah que legal. Como eu? Sim. Virei professor porque você me inspirou. Ele pergunta para o jovem qual foi o momento em que ele o inspirou a ser professor. E aí o aluno conta a história:"Um dia um amigo meu, estudante também, chegou com um relógio novo, lindo, e eu decidi que queria pra mim e roubei, peguei do bolso dele. Este meu amigo percebeu o roubo e reclamou com você (professor). Você disse: o relógio do colega de vocês foi roubado, quem roubou devolva. Não devolvi porque não queria. Você trancou a porta, falou para todos ficarem de pé que passaria de um por um para revistar os bolsos de todos até achar o relógio. Mas falou para todos fecharem os olhos que faria isso com os alunos de olhos fechados... ... todos fecharam os olhos e foi indo de bolso em bolso e quando chegou no meu encontrou o relógio e pegou. Continuou revistando todos e aí quando terminou disse: podem abrir os olhos. Já temos o relógio. Você não me disse nada. Não mencionou o episódio nunca. Não falou quem tinha roubado para ninguém. E naquele dia salvou a minha dignidade para sempre. Foi o dia mais vergonhoso da minha vida. Mas o dia em que minha dignidade foi salva de eu não ter me tornado um ladrão, uma má pessoa etc...Você nunca falou nada. Não me deu lição de moral. E eu entendi a mensagem. E entendi que é isso que um verdadeiro educador deve fazer. Você não lembra disso professor? E o professor responde: - Eu lembro da situação, do relógio roubado, de eu ter revistado todos etc... Mas não lembrava de você. Porque eu também fechei meus olhos ao revistar" (Autor Desconhecido).
Então respondi ao meu colega: talvez não venha a ser professor ou engenheiro mas conseguimos algo semelhante o ano passado, porventura com outra magnitude, quando em vez de censurarmos e punirmos um aluno da DT do Coordenador deste projeto que criou sururu ao invadir quer a pg da escola quer a nossa com ofensas aos... Professores e, posteriormente, com envio de vídeos de horror e sexo a uma colega (tendo-o, posteriormente, confrontado mas não... o liquidando), o sustentámos para o êxito que tardava há anos consecutivos em escolas diferentes. O rapaz passou, foi agradecido e continua no carril do qual tinha saído! Aqui, aqui e tb aqui!!! 🚀
Pq "fechámos os olhos"... 😉Este aluno, sem saber desta "conversa", convidou-me para ir com a sua família ao autódromo do Estoril, onde o pai compete e fez um símbolo DTDM em fotocópia 3D "para agradecer o que o professor fez por mim".
35. Um dia chega uma auxiliar à porta, que está invariavelmente, aberta e pergunta: "professor este menino não devia estar na sua aula?" ao que respondi: "não, se não estava é porque não quer, nesta sala estão os meus convidados, se pretenderem sê-lo qualquer um dos dois (funcionária incluída) podem ficar connosco se não a porta permanecerá como está..."
36. No início das pinturas murais dos Duartes Lopes, tendo a máquina de pressão para limpar a parede para pintar a base de branco avariada, comprámos uma nova que lá foram entregar. Nessa altura, a ver o aparato, disse-nos o empregado que entregou o aparelho: "não pense que o vão reconhecer". Ao que respondi que a vanglória é aquilo que menos me interessa e este é um caminho para fazer com Todos e que ele também estava... convocado e convidado.
37. O Nosso Portefólio tem várias particularidades que fazem dele, cremos, um suporte muito fiável. São eles o "TPC/NOTAS" que tem muitas utilidades, sendo a única folha que pode ter registos dos dois lados, servindo para tomar notas; fazer experiências; pequenos esboços; registar dúvidas ou trazer questões de casa; de "post-it"quando os alunos querem perguntar algo e o professor ou colega está a explicar, para não esquecer; refletir com pequena frase sobre o grau de entendimento e assimilação de cada conteúdo, etc.. Existe também a inovação da Cartolina Protetora que pode vir de casa reaproveitando um dos lados da caixa de cereais do pequeno almoço. É uma peça simples que serve para que só fique "marcada" a folha em que se está a trabalhar, salvando a seguinte que assim ficará ok para o próximo trabalho. O Pedro Neves lembrou-se de trazer um plástico, separador de dossiê e Nós registámos e divulgámos a UpGrade!
38. Já referi antes que temos uma forma de agir de forma a criar comprometimento, paz e predisposição positiva ao entrar na aula. Com a ajuda de uma ampulheta ficamos uns instantes a refletir, pensando em silêncio e respirando com calma. Quando a areia desce na totalidade o professor pergunta a uma menina ou menino alternadamente que partilhe com todos uma motivação. Qual não foi o meu espanto quando um aluno refere: " a minha inspiração é o professor!". Obrigado. Que seja assim para Todos e que o sejam também para mim!
39. Ainda estávamos, para durar, em par pedagógico, na extinta disciplina de EVT. Quando leciono a simbologia da cor refiro que várias "coisas" tendo sempre determinada cor acabam por ter nela a referência. Por exemplo o branco da paz, o vermelho do sangue ou o verde da esperança e até o castanho do... cocó. Os conteúdos, desde sempre para mim, são para serem divertidos e ficarem presentes pois só assim se pode chamar ao que fazemos e com o que ficamos... Aprender. A minha colega ouviu mas nada referiu. Nessa altura fazíamos um teste para sedimentar conhecimentos e um aluno referiu no teste essa particularidade: Castanho- cocó e era uma ficha que tinha sido corrigida pela minha colega que marcou errado (dividíamos a quantidade a meias). O aluno reclamou da correção mas não foi atendido. Fiquei triste mas não quis provocar um... "motim" até porque a questão valia décimas. Há poucos anos, já no 12.º ano, foi o único aluno de excelência do Agrupamento!
40. Há uns anos tinha que ir para uma reunião e um grupo de meninas ficou umas horas mais na sala a fazer "apenas" pormenores quando tinham o 5 garantido (não me deixaram dar...6!), ficando depois do... fim do ano letivo. Foi um prazer lá passar para reavaliar (101%?!). Mas tb há que relevar aqueles que estão sempre na aula qaundo não têm uma aula qualquer ou na hora de almoço. A porta da sala onde estou está sempre aberta e é um prazer estar junto de quem quer trabalhar e bem passando esta forma e construindo-se como ser humano sublime! Estão, por vezes várias turmas em conjunto e mesmo em pé trabalham com qualidade e elegância! Como costumo dizer: os alunos são meus convidados!
41. A minha missão não tem... espaço fixo. Pode ser na aula, mas para mim, a aula é em qualquer lado pois por vezes pode ser útil acabar os trabalhos fora das instalações escolares. Há muitos alunos a aperfeiçoarem trabalhos até quando estão na sala de espera de uma clínica (mais uma razão para termos "encolhido" a base de trabalho), deitados na cama, etc. Depois mostarm nas redes sociais exclusivamente para mim que vou dando sugestões e explicações em tempo real. às vezes as aulas têm, pelo menos e para alguns (os que quiserem)... 500% do tempo! Mas... eu quero, fomento e gosto! O que venho aqui deixar registado foi a abordagem que fiz ao Encarregado de Educação de um aluno referindo que estava a abrandar o ritmo de trabalho e a baixar a qualidade do mesmo! Agradeceu-me (que bom!) e no dia seguinte ainda estava a estacionar junto à escola e já o aluno me pedia desculpa. Então disse-lhe: "Tens é que, em casa, olhar o espelho e dizer: Bernardo, desculpa!". Ele percebeu e... refez-se!
42. Quando estávamos a preparar o terreno para a implantação do "50" (ver Facebook de... 14 de fevereiro de 2020), já na segunda semana, uma aluna vem ter comigo referindo que hoje não ía para a terra pois (percebi logo...) os ténis que trazia eram brancos. respondi que estava tudo bem, podia só recolher ervas ou ir para a sala que podia sempre ganhar mais uns pontinhos a melhorar mais um bocadinho alguns trabalhos que eu logo reavaliaria, estava à vontade, era o último dia do semestre! Entretanto já estava de enxada em punho uma colega com... unhas de gel! Virei-me e dei algumas indicações a outros alunos que a nós se juntavam, muitos não são alunos que tenha registados no horário, e ao focar-me no terreno de novo lá estava a moça dos ténis alvos que afinal, conforme confessaria posteriormente, não resistiu!
43. Já apresentámos uma história passada nesta escola. Referimo-nos a Manique do Intendente. Uma aluna no trabalho das Texturas aparece com várias folhas com tinta, pois a ideia era trazer de casa uma recolha de texturas retiradas de vários suportes e de várias formas. Lembro-me de ser uma aluna esforçada, o jeito não era muito mas a resiliência era tal e o desejo e alegria de fazer bem e evoluir era tal que atingia os objetivos com muita naturalidade. As várias folhas de que era portadora "metiam medo ao susto" e então perguntei "o que era aquilo?", a Nazaré (nome que recuperei há uns anos...) disse-me "professor: preparei alguidares com tintas e coloquei o gato e ele esperneou e fugiu", pasmado, referi, então, que se podia aproveitar uma parte e encaixar pois vislumbravam-se as patas e o pelo. O pior veio depois: "e isto, o que é?", perguntei, ao que a aluna respondeu: "professor coloquei a galinha nesta tinta começou a dar às asas e patas e... raspou-se!". Fiquei entre o atónito e o maravilhado, respondendo que se podia aproveitar dali as naturais texturas captadas da ave. Esta é uma aluna Do Tamanho Do Mundo e gostaria tanto de a rever...
44. No dia 10/12/2019 "Apresentação obra da fachada"! Através de uma RGP (reúnião geral de professores) para apresentar algumas ideias entre as quais as do título. Foi uma sessão em que, mais uma vez, mostrámos aos colegas aquilo que nos norteia e qual o objetivo. O Diretor debatia-se com um problema: a escola pintada por fora e a querermos fazer (+) algo diferente, pintando o que podem ver no vídeo com o título acima (ver "vídeos") e a resposta do ministério apenas revertia para a perda da garantia de 5 anos. Os colegas aceitariam isso?!
Foi algo que nem se colocou. Aproveitando a presença do Diretor a abordagem reverteu para temas relacionados com a necessidade de se combater alguma indisciplina. Pedindo sempre desculpa e deixando bem vincado o apreço pelo trabalho realizado e as ideias a trabalhar houve um desvio que provocou a marcação de uma segunda sessão em que será lavrada a ata com as conclusões. A quarentena do novo covid -19 adiou tudo.
Ficámos com uma sensação agridoce mas certos que afinal o projeto DTDM é ainda maior e mais vasto gerando estes e outros momentos... colaterais.
45. Para Contrariar a indisciplina que tanto indignava e preocupava no item anterior resolvemos ir num sábado escrever no chão da escola de forma a que todos sejamos confrontados com aquilo que nos deve nortear de forma natural e não sermos punidos (os alunos...) quando são muitas vezes vitímas de vários aspetos sociais alguns bem dentro da escola. E é nela que iremos continuar a fazer Muitíssimo e neste particular ainda serão erigidos dois quadros um de cada lado da "rampa" onde as turmas irão escrever uma palavra positiva que será a sua referência, o seu grito de guerra. Depois estamos a fazer molduras com uma ranhura penduradas pela escola e cada turma irá, à vez, fazer "obras de arte" por disciplina. Sim, porque em matemática ou físico-química também é possível! ;-)
46. Há mais: vamos descobrindo, acumulando e... relembrando. É tão bom ser professor. Obrigado a todos!
100. Nunca poderei dar as aulas de outra forma. Ficaria tão mais pobre. Tudo o que acima descrevi (e outras epopeias que me vou lembrando e que vão surgindo...) arrepiam-me!
Nota: Os alunos (e neste "BOoomm" da "DLmania"/DTDM no facebook aparecem, agora, EEs e colegas de todos os níveis...) e as (suas) ideias, fruto da dinâmica indutora de mobilização de saberes espontâneos, com bases de investigação, chegam muitas vezes, junto de mim com sugestões, muitas vezes tímidas. É nesses momentos que têm crescimento... meteórico! São bem-vindas e estimuladas essas... "ousadias"! Cresço com eles...
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaammmmmmmmmmmmmmmooooooo Partilhar!